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Aproximação com Leite deflagra crise no MDB gaúcho

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A um ano e meio das eleições de 2022, as pretensões do governador Eduardo Leite (PSDB) de concorrer à presidência da República começam a ter impacto direto sobre as articulações dos partidos no RS. Não é a sigla do governador, contudo, a mais atingida no momento pelo desenho de um cenário no qual Leite consiga entrar na disputa presidencial. A legenda que a possibilidade afeta com mais força hoje é o MDB, onde há uma sucessão de lances de bastidores a opor lideranças que se alinharam a Leite e aquelas que defendem a independência do partido tanto em relação a administração estadual como ao encaminhamento das sucessões no Planalto e no Piratini.

Internamente, trocas de farpas, ironias e adjetivos pouco elogiosos ocorrem em conversas de whatsapp, telefonemas e, até mesmo, encontros presenciais reduzidos. De público, duas situações mais perceptíveis traduzem os embates dentro da sigla. Uma, que retrata o alinhamento de parte do partido com Leite, é a quantidade de reuniões, encontros e participações conjuntas em eventos do governador com o presidente da Assembleia Legislativa, o deputado Gabriel Souza (MDB). A ‘sintonia’ começa a incomodar até outros integrantes deste grupo empenhado em ‘colocar na rua’ uma aliança com o governador. “O Gabriel não sai do Palácio, chama o governador para qualquer coisa, viajou com ele para São Paulo. Está ficando demais”, dispara um deles. Na ala simpática a uma coalizão com o tucano, além de Souza, estão, entre outros, o presidente do MDB no RS, o deputado federal Alceu Moreira, os hoje secretários Édson Brum e Juvir Costella, e o líder da bancada na Assembleia, deputado Vilmar Zanchin.

A situação oposta, dos que querem independência do governo e da disputa do PSDB pela sucessão presidencial neste momento, tem como parte mais visível a crítica constante do prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), ao modo como Leite conduz a política de enfrentamento ao coronavírus. Hábil, o governador, com auxílio de Souza, tem feito uma série de movimentos para distensionar a relação com o prefeito. “Para o público, o que aparece é mais o negócio de abrir que o Melo defende. Mas, politicamente, ele marca posição. Ele expõe as várias contradições do governador”, aponta um emedebista do grupo. Esta ala abarca, para além do prefeito, o secretário Cezar Schirmer, e parte significativa dos chamados emedebistas históricos, que inclui ex-governadores como José Ivo Sartori e Germano Rigotto. O ex-prefeito de Gravataí, Marco Alba, terceiro vice-presidente na executiva estadual, tem sido uma espécie de porta-voz, visto que, a começar por Sartori e Melo, a ala considera que é preciso dosar muito bem a exposição dos conflitos, evitando desgastes desnecessários.

Para esta fatia do MDB, a negociação com o PSDB estaria ocorrendo no momento errado, “apequenaria” o partido e teria sido decidida “por meia dúzia”. “O que percebemos é uma tremenda insatisfação dentro do partido com esse adesismo de três ou quatro, feito de forma fechada. Eu sou um dos que insistem, há tempo já, na necessidade de reavaliação porque, garanto, 70% do MDB não concorda com isto”, afirma Marco Alba.

Na outra ponta, Alceu Moreira minimiza as diferenças. “O Alba tem todo o direito de discordar, nunca exigimos unanimidade. Ele é um nome a ser lembrado, inclusive, uma liderança importante. Mas não marcamos data para definir candidato. Primeiro, vamos apresentar um projeto. Ora, estamos no meio de uma pandemia, não estamos tratando destas questões agora. O MDB está no governo, foi uma decisão tomada lá atrás, não há novidade nisso”, resume.

O discurso de Alba, contudo, não guarda semelhança com o dos governistas. “Respeitamos o governador e suas pretensões, mas são uma questão dele. Seu governo mal consegue fazer ações para pagar as contas, não gerou empregos, não atraiu grandes investimentos, não mudou nada para a população do RS. Não são meia dúzia de aspirações pessoais somadas a um projeto que usa o RS como degrau para a disputa presidencial que vão desrespeitar o legado do MDB gaúcho e comprometer seu futuro”, elenca.

Moreira nega a articulação com Leite e uma negociação casada para o Planalto e o Piratini. “Não tem nenhuma conversa estabelecendo qualquer tipo de apoio a quem quer que seja. É tudo muito incipiente. E não vou me imiscuir no processo do PSDB, até porque ficaria parecendo que nós aqui estaríamos querendo empurrar o governador para longe para termos candidatura.” Apesar das negativas, ele ressalva que o MDB e o PSDB estão no mesmo campo político no RS, que não há possibilidade de o MDB disputar o governo sozinho e que é “absolutamente natural que a caminhada até 2022 tenha uma discussão muito próxima” aos tucanos.

Quem ganha
Interesses mútuos norteiam a aproximação entre o governador Eduardo Leite e uma parcela do MDB gaúcho. Para Leite, ela viabiliza mais de um palanque no RS caso consiga concorrer à presidência, e reforça a imagem de líder aglutinador. Além da composição MDB/PSDB, Leite contaria com o palanque do hoje vice-governador e pré-candidato ao governo, Ranolfo Vieira Júnior (de saída do PTB, a aposta é de que ingresse no Podemos). Em função das regras eleitorais, Ranolfo assumirá o lugar de Leite de qualquer forma antes da eleição, por pelo menos seis meses, se o governador disputar a presidência.

“A aproximação com o MDB trata de estratégia. Um governador, para vender a ideia de ser candidato a presidente com diferenciais competitivos, precisa mostrar que é pluripartidário. O vice é o que tecnicamente chamamos candidato nato. Se há o palanque dele e mais outro, do mesmo campo, do ponto de vista da reputação, o governador vende uma imagem que traz a ideia de liderança aceita no seu Estado. Esta reputação, neste momento, seria mais importante do que a indicação de um nome do próprio partido”, explica a cientista social e política Elis Radmann, diretora do Instituto Pesquisas de Opinião (IPO).

Já para a parte dos emedebistas alinhados a Leite, o nome ungido para a disputa à sucessão do tucano começaria a ganhar exposição crescente, o apoio e elogios públicos do governador faltando mais de um ano da eleição, certificando sua consolidação já na entrada de 2022. Além disto, a articulação garantiria processos de reeleição mais tranquilos para deputados estaduais, que já poderiam atrelar diretamente seus nomes a ações que lhes interessem do governo e lembrar seus eleitores da importância da proximidade com um candidato nacional. Por fim, o ingresso em definitivo no governo também trata da ocupação e manutenção de algumas centenas de espaços dentro da máquina pública.

Com o avanço das tratativas, pesquisas internas estão sendo feitas para definir qual o melhor nome do PSDB para ocupar a vaga de vice em uma eventual futura chapa comandada pelo MDB ao governo. Despontam as prefeitas reeleitas Paula Mascarenhas (Pelotas) e Fátima Daudt (Novo Hamburgo). Mesmo que apresentem performance semelhante, interlocutores emedebistas garantem que a preferência é de Paula, que foi vice de Leite quando ele administrou Pelotas.

Fonte: Correio do Povo

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