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Com mais de 60 anos de casados, Inês e Donato Baldissera contam sua história aos leitores do Jornal Folha da Club

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Com mais de 60 anos de casados

Um casal que deu certo, assim podemos definir a história de parceria estabelecida entre Inês Biavatti e Donato Baldissera. Já são 64 anos de matrimônio, com superação de muitas dificuldades e conquista de incontáveis objetivos.
O início da vida de cada um foi em municípios diferentes. Enquanto Donato é natural de Machadinho, Inês nasceu em Cacique Doble, de onde mudou-se para a terra do balneário com apenas um ano de idade. “Eu vim com um aninho para Machadinho, daí morei na comunidade de Santa Terezinha, aqui perto. Vivi com meus pais ali e com vinte anos incompletos nós nos casamos, aí eu me mudei para São Caetano”, resume Inês ao contar um pouco de sua trajetória de vida. Hoje o casal mora na sede do município de Machadinho. A mudança para a atual morada aconteceu há cerca de dez anos.
Antes do casamento, Seu Donato também morou com a família, auxiliando os pais nas tarefas do dia a dia. A principal ocupação ainda quando criança era cuidar dos irmãos enquanto a mãe ia para a lavoura e o pai desenvolvia a função de alfaiate. “Eu tinha que cuidar da cozinha, cozinhar o feijão, que é o que precisa de mais fogo, e cuidar das crianças. Quando chegava umas horinhas tinha que pegar o pilão e socar o arroz para misturar com o feijão depois”, relembra Donato. “Eu era um piá de nove, dez anos, por aí naquela época”, complementa.
As tarefas do dia a dia deixaram uma consequência negativa na vida de Donato. O machadinhense não pôde estudar para cuidar dos afazeres domésticos. “Eu fui só no primeiro ano, depois na hora que eu ia aproveitar tive que ficar em casa. Eu tinha quatro irmãozinhos mais novos, pequenininhos que não iam na aula. Tinha que cuidar e fazer tudo o que precisava para uma criança. Esse foi o começo da minha vida”, conta Donato.
Conforme declara a esposa Inês, a falta de estudo não é razão para que Donato deixe de entender sobre negócios e garanta que não seja jamais passado para trás por quem quer que seja. “Ele não estudou nada, eu fiz a quarta, quinta série, mas logre ele para ver. Coloque ele em um banco para ver. A vida ensinou ele”, diz.
Antes de casar-se, Inês teve o privilegio de fazer parte do ensino de crianças na Comunidade de Santa Terezinha por dois ou três anos letivos. “Eu dei aula, substitui um professor. Fui bem que nossa, meus alunos passaram muito bem”, relembra.
O relacionamento do casal começou com a ajuda de uma irmã de Donato, que comentou com Inês sobre o pretendente. “Uma irmã dele (Donato), a Tila, que me apontou. Ela disse: ‘eu tenho um irmão assim, assim, que daria certo para casar’”, conta Inês. Nesse dia começou a história que hoje é responsável pela construção de uma família com seis filhos, oito netos e dois bisnetos.
Foram 58 anos morando na comunidade de São Caetano, sempre trabalhando com a terra para juntar um pé de meia e sustentar a família. No início a atividade principal foi a fabricação de farinha de mandioca em uma tafona. “Eu fui em Carazinho comprar uma ferragem nova para montar a tafona. Tinha usadas por aí para comprar, mas as novas eram mais modernas – o sistema de secar a farinha que era a parte principal”, comanta Donato.
A falta de recursos era o principal obstáculo para impulsionar o negócio, montado em sociedade com um irmão e um primo de Donato. “Era um serviço bravo e não tinha dinheiro para começar”, declara. A saída foi pedir emprestado para pessoas da região que os sócios sabiam ter dinheiro guardado. “Eu que era o mais velho era responsável, conhecia quem tinha dinheiro guardado. Eu ia pedir o dinheiro emprestado e não perdia a viagem. Fomos tocando até começar colocar a farinha dentro de um caminhão e ir pagando o que devíamos. Fomos pagando e graças a Deus não deixei dúvida para ninguém”, ressalta Donato. Durante aproximadamente quatro anos a tafona foi o carro chefe da economia da família.
A seriedade sempre ajudou no fechamento de negócios. Em outra oportunidade também foi o dinheiro emprestado que serviu para a concretização – a compra de um terreno foi possível graças a esse bom relacionamento com os conhecidos. “Eu precisava comprar uma terra, mas não tinha dinheiro. Aí pensamos, fomos lá no fulano, explicamos o caso – precisava de oito contos –, e ele disse: ‘se for pelo dinheiro pode fazer o negócio’. E pagamos tudo trabalhando com a terra, saiu tudo sempre da terra”, ressalta Donato.
No cultivo com a terra, não houve o que o casal deixou de plantar, garante Inês. “Plantamos de tudo: trigo, feijão, arroz, mandioca, erva-mate, cana de açúcar, o que dava a gente cultivava”, conta. “Se plantava as coisas e tinha os moinhos que beneficiavam. Botava no cavalo, ia lá e voltava com a farinha, o arroz descascava”, acrescenta Donato.
Hoje permanece na terra que gerou o sustento para toda a família, o filho Lili Baldissera, que além de manter um local muito organizado com açudes onde são criados peixes de várias espécies, também cultiva o solo, especialmente com erva-mate.
Quando volta o olhar para o passado, Dona Inês avalia que faltaram muitas coisas para os filhos, porém a educação nunca ficou desassistida e colocou cada um em seu caminho. “Demos os estudos que pudemos para eles, estudaram e cada um está colocado. Graças a Deus a gente não tem nada de ruim para dizer dos nossos filhos”, comenta.
A alegria por ter construído uma família alicerçada em valores positivos só é abalada pela falta de um dos filhos, que teve a vida ceifada por um acidente, porém até mesmo a dor é encarada com fé e serenidade. “Nós perdemos o mais novo de acidente. Foi muito doloroso. Essa foi a tristeza maior, e machuca até hoje. Tem pessoas que se desesperam, mas a gente tem que ter força para tudo, até para carregar essa cruz pesada. Temos que ter força para carregar isso também”, comenta Inês.
Como agradecimento pelas situações apresentadas pela vida e suas consequências, Inês cita a possibilidade de conviver com harmonia com os familiares, assim como também é o convívio com os amigos. “A gente tem que agradecer por eles. Sempre vivemos em paz. Nós nunca tivemos uma vírgula com ninguém. A melhor recompensa é encontrá-los e eles visitarem a gente. É muito gostoso”, considera. “Nós sempre convivemos muito bem. Podemos recorrer o mundo que não temos uma pessoa que dizemos que não gostamos. Paz de espírito e alegria é nosso maior patrimônio”, conclui Inês.

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