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Desbravando fronteiras, Elcio Antonio da Rosa construiu sua trajetória de vida

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A vontade de superar desafios e conhecer novos lugares fez com que Elcio Antônio da Rosa aproveitasse as boas oportunidades que a vida lhe proporcionou. Uma dessas possibilidades apareceu quando ainda era um adolescente, com 16 anos de idade foi para Goiás colher lavouras com a recém-adquirida colheitadeira da família.
Naquele momento, em meados da década de 1970, a opção de deslocar-se com a colheitadeira para o estado de Goiás surgiu como oportunidade de amortizar uma dívida contraída com o banco, realizada justamente para adquirir o maquinário agrícola.
A SLC 1000 foi a segunda “automotriz” adquirida por produtores de Machadinho. “Foi a primeira dessa marca que entrou aqui na região. Um ano antes o meu tio tinha comprado uma Vassalli P16. Eram as duas máquinas que tinha em Machadinho”, declarou Elcio em entrevista ao Jornal Folha da Club.
A aquisição foi realizada em uma época em que a família estava conseguindo evoluir com a atividade agrícola – depois da compra do primeiro trator, já havia sido possível trocá-lo por outro melhor. Porém, as safras que se seguiram à compra não foram das melhores, acarretando no atraso nas parcelas do empréstimo junto ao Banco do Brasil.
A saída encontrada pelo pai de Elcio para quitar a dívida foi vender uma área de terra, o que não coincidia com a vontade do nosso entrevistado. A venda não foi concretizada justamente pela realidade da produção agrícola da época, que não dava aos produtores condições financeiras que possibilitassem tal negociação. “Não estava fácil de dar a volta. Complicou porque os anos eram muito ruins. Não era como hoje, que tem bastante tecnologia. Naquele tempo se plantava o trigo, dava o pulgão e não tinha nem veneno para passar, então se colhia mal”, comentou.
O negócio estava se encaminhando com o Doutor Nilo, porém antes de acontecer de fato surgiu a oportunidade de deslocar a colheitadeira para o estado de Goiás, onde seria alocada na colheita de lavouras da região. “Acho que foi uma sorte que aconteceu. Num domingo apareceu aqui em Machadinho o falecido José Lisboa, de São José do Ouro, pedir para o pai se ele não queria mandar a máquina colher lá em Goiás. Tinha umas lavouras lá para colher e precisava de bastante máquinas”, disse.
Porém, um obstáculo surgira junto com a oportunidade: Elcio ainda era menor de idade, o que despertava receio em seu pai. A autorização para seguir viagem aconteceu depois de uma conversa com o tio de Elcio, que confirmou que também iria para Goiás trabalhar com sua colheitadeira. “O meu pai não ia deixar eu ir, eu tinha só dezesseis anos de idade e ele tinha medo. Mas aí o meu tio resolveu também ir para Goiás, foi aí que meu pai disse que eu poderia ir”, relatou Elcio.
Depois que chegaram às lavouras, pela imensidão das propriedades rurais, tio e sobrinho praticamente não se viram mais. Cada um tratou de cuidar de suas máquinas e colher as lavouras. Uma dos momentos mais difíceis na empreitada aconteceu justamente por não poder mais contar com a companhia e tutela do tio. Um rolamento da colheitadeira “pifado” forçou o jovem a se dirigir à cidade de Itumbiara, há aproximadamente 160 quilômetros da fazenda. “Na estrada era cheio de portões, o cobrador do ônibus tinha que descer do ônibus abrir os portões – que eles chamavam de colchetes – e depois fechar. Cheguei em Itumbiara era quase meia noite”, contou.
A partir daquele momento começou outro desafio, encontrar um hotel que aceitasse hospedar o jovem menor de idade e sem portar documentos pessoais. “Eu estava preocupado, já tínhamos passado em vários hotéis e nenhum aceitou me hospedar. Tinha mais um só para passar e eu falei para o motorista do táxi: ‘Se eles não me aceitarem você me leva até a rodoviária que vou dormir lá. Amanhã cedo você me busca lá, vamos comprar o rolamento e eu volto para a fazenda”, relatou.
Foi ali que o jovem conquistou a confiança do taxista. Ao mostrar o rolamento pifado, o motorista disse que se o hotel não hospedasse o jovem trabalhador, ele mesmo o faria, dando acolhida em sua própria casa. Tal feito não foi necessário, já que o goiano deixou os próprios documentos como aval para que o machadinhense pudesse pernoitar no local, retornando no dia seguinte para levá-lo à loja adquirir o rolamento novo. “Eu mostrei o rolamento que eu tinha enrolado num papel, numa caixinha e ele viu que eu não estava ali para outra coisa. Ele me disse: ‘Se você não dormir nesse hotel, vai dormir lá na minha casa. Daí ele entrou comigo lá, deixou os documentos dele como garantia e eu consegui descansar até no outro dia de manhã”, detalhou Elcio.
Com a colheitadeira consertada, foi possível continuar a safra e juntar o valor necessário para livrar a família da dívida junto à instituição bancária. E ainda sobrou dinheiro, conforme conta o machadinhense. “Resumindo, eu fiquei sessenta e dois dias lá. Deu para pagar toda a dívida que o pai tinha no Banco do Brasil – que ele queria vender uma terra para pagar. E sobrou quase outro tanto da dívida”, comentou. “A dívida era de seis mil e seiscentos cruzeiros, se não me engano, na época, e eu fiz onze mil e duzentos, limpo de frete, de tudo. Seria quase duas vezes o valor da dívida. Aquilo foi uma coisa que marcou, porque aquela terra iria fazer falta para nós e eu não queria vender”, relembrou.
No ano seguinte o destino foi Mato Grosso, onde Elcio colhia arroz e soja. “Eu colhia soja até umas horas da noite e depois colhia arroz até umas duas horas da madrugada. Depois tinha que dormir também”, relatou. “Esse foi o começo da nossa peleia”, acrescentou. O trabalho com a terra permaneceu ao longo da vida, se alternando com investimentos imobiliários na cidade de Machadinho.
Elcio deu também sua contribuição política à sociedade machadinhense. Ainda na década de 1970 foi eleito vereador. Durante seis anos exerceu a função, sem receber nenhum tipo de remuneração. “Era para ser um mandato de quatro anos, mas daí como o Governo mudou para poder coincidir as datas das eleições eu fiquei dois anos a mais. Naquele tempo se trabalhava de graça, não tinha salário. Era por amor à camisa”, relembrou.
Conforme o próprio Elcio, do período ficou um aprendizado significativo, especialmente pela pouca idade que tinha quando assumiu o cargo. “Eu guardo uma experiência muito grande, eu era ‘piazão’ na época. Agradeço muito ao Oswaldo Vecchi, que foi meu professor – ele foi vereador junto comigo e me ajudou muito. A gente conversava bastante antes da sessão. A gente sempre trabalhava para que tudo andasse bem, para o município fosse para frente, nunca indo contra o que era de bom”, relatou. Uma das grandes conquistas para o município durante a sua gestão foi a construção do Parque de Exposições, utilizado até hoje para realização de grandes eventos.
A carreira política não seguiu após o exercício daquele mandato porque o jovem machadinhense optou por adquirir um caminhão e trabalhar no segmento dos transportes rodoviários. Três anos depois de iniciar a atividade, a opção foi por mudar novamente para poder ficar mais próximo da família e acompanhar o crescimento dos dois filhos, que hoje já lhes deram três netos. A família foi construída sempre com bases sólidas no relacionamento com a companheira, Milvia Pires da Rosa, com quem casou-se no ano de 1976.
Perguntado pelo repórter do Jornal Folha da Club, Alex Neuhaus sobre a expectativa que tem em relação ao desenvolvimento da terra do balneário, Elcio foi enfático. “Eu acho que Machadinho tem um futuro muito promissor, um futuro muito bom pela frente. E é rápido. A coisa está andando muito rápido”, analisou, citando a condição de empregabilidade da população machadinhense – puxada pelo segmento do turismo – e as conversas que têm com amigos da região – que manifestam-se impressionados com o nível de desenvolvimento percebido nos últimos anos.

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