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Entre um baile de rancho e outro, Martin Bortolossi escreveu a história de sua vida

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Com apenas dez anos de idade, Martin Bortolossi aprendeu a tocar gaita, instrumento que jamais abandonaria ao longo de sua vida. Foi com sua fiel companheira que animou muitos bailes de rancho na região, construindo amigos e levando alegria a quem cruzasse o seu caminho.
Natural de Maximiliano de Almeida, percorreu toda sua trajetória na mesma localidade – Linha Gramado. Por lá, aprendeu muito jovem a trabalhar na roça. Conforme o relato do nosso entrevistado, com aproximadamente oito anos de idade já ia para a lavoura ao lado de seu pai e de seus irmãos.
A relação com a música apareceu já naquela época. Quando votavam do trabalho das lavouras, o pai convidava os irmãos para cantar, formando a alegria da família, em momentos simples, porém repletos de harmonia e afeto. “Quando chegava o meio dia, que estava na hora de irmos embora, o meu pai dizia para as minhas irmãs: ‘Quando descermos o morro vamos fazer uma cantarola.’ Nós íamos cantando, alegres e faceiros”, conta. “Naquele tempo era tudo divertido, não tinha maldade nenhuma. A gente se dava bem com todo mundo, era uma beleza”, relembra.
Os estudos na Linha Gramado foram até a quarta série. No momento em que serviu o exército Martin conseguiu cursar a quinta série. O grau de instrução permitiu que fosse convidado a dar aulas na escola da Linha Barra do Ligeiro, depois que o então professor foi transferido para uma escola de outra comunidade. A função foi exercida por pouco mais de um ano.
Uma das passagens mais interessantes do período em que lecionou foi uma atividade que repassou aos alunos. “Eu mandei a ‘piazada’ fazer uma espingardinha cada um. Eu dava instrução conforme ouvia no quartel”, afirma, referindo-se aos comandos de formação que recebia no quartel e repassava aos alunos. “Um dia, quando a coordenadora de educação e o prefeito estavam visitando a escola, eu mandei cada um pegar a sua arma; mandei ficarem em posição de sentido, eles ficaram; mandei apresentar armas, eles fizeram; mandei descansar armas; meia volta, vou ver; à esquerda, vou ver. Eles (alunos) fizeram tudo”, relata Martin, dizendo que a coordenadora de ensino ficou encantada com a atividade que os alunos desenvolviam e disse que era algo que deveria seguir sendo feito.
Quando serviu ao Exército Brasileiro os dias passaram a ser mais fáceis após se enturmar com os oficiais de maior patente. “Eu nunca deixava de fazer nada, estava pronto para tudo. Foi assim que comecei a trabalhar no cassino do sargento depois, fazer cafezinho lá e tudo mais. Daí ficou mais fácil, não trabalhava e ganhava mais do que os outros”, declara. Nosso entrevistado permaneceu no Exército pelo período de um ano e quatro dias.
O primeiro casamento aconteceu quando tinha 22 anos de idade. Com a esposa, Iraci, mais conhecida como Neca, teve oito filhos. Com ela permaneceu casado por aproximadamente 15 anos, até que um câncer ceifou a vida da companheira.
Depois de pouco mais de dois anos vivendo sozinho, sentiu a necessidade de encontrar uma pessoa para dividir os dias. “Eu achei que uma vida em casa, sozinho, sem mulher seria difícil, ir para a roça, voltar e fazer comida, lavar a roupa e tudo. Daí resolvi casar de novo”, comenta. O segundo casamento durou aproximadamente 15 anos também, até que se separaram.
Agora Martin está novamente casado, com Conceição, há mais de dez anos.
Contado um pouco da trajetória de vida de Martin, vamos falar também pela sua grande paixão: animar bailes de rancho onde fosse chamado. As histórias vividas nesses eventos se acumulam e arrancam risos de quem as ouve.
O dom de tocar gaita sempre foi notável em nosso entrevistado. A primeira delas – de botão – foi presente de seu pai, o qual recebeu com dez anos de idade. Quando serviu ao Exército aprendeu tocar em uma gaita de 80 baixos e, voltando para casa, o pai negociou o antigo instrumento com um conhecido. “Daí eu comecei tocar com ela e fui indo. Eu tocava em todos os clubes perto de Maximiliano. Eu não tinha carro e eles vinham me buscar em casa”, relembra.
Uma das experiências que mais marcam a memória de Martin aconteceu em um baile animado na casa de Dona Joaquina Marçal. “Ela fez o baile e disse: estou cobrando dois reais (a moeda da época era outra) do ingresso, mas tem direito ao café a meia noite. Aí se juntou lá um monte de gente, a meia noite a Joaquina chamou e disse que o café estava pronto – era polenta e café preto adoçado com café amarelo. Enquanto o povo tomava café lá na cozinha os outros tiraram a escada da entrada da casa e depois do café tomado – tudo combinado – uns outros fizeram de conta que brigaram para o pessoal sair correndo. O que aconteceu foi que um monte de gente se embolou, caindo da escada que não tava mais no lugar”, relembra aos risos.
Conforme Martin, os bailes da época não eram programados. Quando algumas pessoas tinham vontade de se reunir convidavam a turma e chegavam de surpresa na casa onde os eventos seriam realizados. Já no escurecer a festa iniciava e não tinha hora para acabar. Por volta de meia noite era o momento dos versos. “Tinha uma roda de gente e um dançava no meio. Daí o gaiteiro parava a gaita e tinha que dizer um verso. Era tudo muito divertido”, conta.
Sobre o que cobrava para animar as festas, Martin declara que fazia apenas por gostar da diversão que os momentos proporcionavam. “Não cobrava nada. Só matavam uma galinha, faziam aqueles ‘brodos’ e a alegria tava formada. O sol nem tinha entrado ainda o pessoal já tava chegando e seguia a festa”, relata.
Para chegar aos bailes os transportes eram os mais variados. Alguns iam a pé, outros a cavalo e alguns ainda lotavam carroças e se deslocavam de suas casas até o “rancho” escolhido no dia. “Enchiam a carroça de gente e iam para os bailes”, relembra.
O saldo desses momentos de diversão vividos nos bailes de rancho e outras situações renderam um saldo muito positivo no que se refere às amizades formadas ao longo da vida. “Eu sempre levo as coisas na brincadeira, dou risada, conto causos. Não tenho inimizade com ninguém e quero continuar o resto da minha vida assim”, afirma.
A família formada também rende momentos de muita satisfação e alegria, quando os filhos se reúnem para fazer um bom almoço e ajudar o pai a trabalhar. “Nos sábados eles vêm aqui, trazem cerveja, carne, e me ajudam trabalhar também. Então nós assamos a carne e tomamos cerveja. É muito bom tudo isso”, ressalta.
Aos 88 anos de idade, a vitalidade de Martin Impressiona. Ele faz questão de manter uma lavoura de milho e fazer a limpeza com seu próprio trabalho. No momento em que foi procurado pelo repórter Alex Neuhaus, do Jornal Folha da Club, estava capinando a lavoura de milho, que depois de colhida deverá servir para alimentar os porcos e as galinhas, que também faz questão de criar em sua propriedade.

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