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Eu sempre quis viver, resume Maria Orlando Tessaro Meassi sobre as quase nove décadas de vida

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Eu sempre quis viver, resume Maria Orlando Tessaro Meassi sobre as quase nove décadas de vida 003

Com muita lucidez e uma memória invejável, Dona Maria Orlando Tessaro Meassi conta um pouco de sua história ao Jornal Folha da Club e resume em uma frase marcante a receita de sua longevidade: “Eu sempre quis viver, eu nunca quis morrer e acho que é por isso que eu vivo bastante.”.
Nascida em 15 de dezembro de 1929, Dona Maria é natural de Marau, RS e reside em Machadinho desde seus 13 anos de idade. Seu pai buscou no município uma oportunidade de trabalho diferente, já que pretendia instalar uma serraria, como realmente o fez. “Ele (pai) era comerciante e teve uma vontade de mudar. Ele queria comprar madeira e colocar uma serraria”, relata Maria.
Apesar de ter conseguido realizar o desejo de instalar a serraria em Machadinho, a iniciativa não foi bem sucedida. Pouco tempo depois a atividade da família passou a ser o comércio: um bar foi o novo investimento. “Não deu certo, passou a trabalhar de novo com o comércio. Ele colocou um bar”, conta Maria. Quando fala que o comércio foi novamente a atividade da família é porque já em Marau esse mesmo segmento era explorado.
Maria lembra com detalhes a idade que tinha quando casou-se com Alduino Paulo Meassi. “Eu tinha dezessete anos e cinco meses. Era menina ainda”, relata. Nesse momento deixou de morar com os pais para construir seu próprio lar ao lado do marido. “Eu casei e fui direto morar na minha casa. Na primeira noite já dormi na minha casa; do lado da casa do meu pai”, relembra.
O início da vida profissional de Maria foi trabalhando com um salão de beleza, porém, ela mesma diz que o termo não define exatamente seu estabelecimento comercial. “Eu trabalhava com permanente: ondulava cabelo, cortava cabelo. Era uma coisa simples, não era um salão como os de hoje que fazem maquiagem. Essas coisas eu não fazia. Eu só ondulava cabelo e cortava cabelo de mulher; de homem não. Trabalhei vinte e poucos anos com isso”, relata.
Depois de parar com o trabalho no salão de beleza, Maria passou a dedicar-se à limpeza de ternos masculinos e vestidos de noiva. “Eu faço isso até hoje. Limpo ternos e passo; vestidos de noiva, essas coisas assim, se alguém precisa eu faço”, comenta. “Uma vez usavam mais ternos do que hoje porque hoje tem umas camisas muito bonitas, calças muito bonitas e muito boas, teve uma mudança de hábitos”, analisa Maria.
Seu marido, hoje falecido, por sua vez trabalhava junto com a família em uma serraria. “Ele trabalhava com a serraria; dirigia o caminhão, puxava toras, trabalhava com isso aí”, conta. Inclusive foi do empreendimento da família a doação da madeira utilizada base da construção da Igreja Matriz do município.
Ao falar sobre o tempo em que viveu ao lado de Seu Alduino, falecido há 25 anos, Maria exalta a boa convivência e a parceria estabelecidas pelo casal. “A gente viveu bem, graças a Deus. Tivemos muito respeito um pelo outro. Vivemos bem. É lamentável ele ter ido muito cedo”, comenta. Mesmo sentindo a extrema falta feita pela ausência física do companheiro, Maria analisa a perda com sensatez e resignação. “São coisas da vida. A gente está aqui e tem que estar preparado”, reflete.
Outro momento de perda, e que de acordo com Maria foi um golpe fortíssimo, foi a morte da filha Maria, a professora Nair Bernardete Meassi. “A minha filha fez muita falta. Nós morávamos junto. Faz quatro anos que ela faleceu”, conta. “Ela era solteira; minha filha mais velha e me ajudou a criar todos os irmãos”, acrescenta.
Nair lecionou durante 27 anos, e na memória da mãe Maria está muito viva a lembrança do trabalho que também era a paixão da filha. “Ela lecionou vinte e sete anos sem nunca parar, só nas férias é claro. E ainda nas férias ela se ocupava de dar aula para algum aluno que estava meio apertado”, relata. A professora Nair faleceu aos 57 anos de idade e recebeu homenagem póstuma quando teve seu nome identificando um dos maiores patrimônios da educação do município: a creche pró-infância.
Hoje Dona Maria mora sozinha em sua casa, porém conta com a constante presença da filha que também recebeu seu nome, a professora Maria, que mora ao lado e acompanha as atividades diárias da mãe. “Ela mora ali (ao lado), vem ver tudo o que eu preciso. Por enquanto eu me viro; vou no mercado, cuido da minha casa, limpo a minha casa, lavo a minha roupa, ainda limpo os ternos que me trazem pra limpar”, comenta a jovem de quase noventa anos.
Sobre a vida social também são muitas as memórias de Maria. De acordo com ela, enquanto o marido era vivo os eventos sempre contavam com a presença do casal. “Quando ele tava vivo a gente não perdia nada. Íamos em tudo que tinha porque ele era muito festeiro, ele gostava muito de se divertir”, relembra. “Depois que ele foi, as coisas complicaram um pouco porque uma mulher sozinha não pode sair na rua e vim embora uma, duas horas da madrugada”, pondera.
No papel de desenvolver as entidades do município o casal também sempre fez questão de atuar como protagonista. Foram sócios fundadores da Igreja Matriz e também do Clube União. Ressalvando uma possível falha na memória, Maria imagina ser a única pessoa viva das que formaram o grupo de sócios fundadores do Clube União do município.
Outro momento marcante para Maria foi a festa realizada para comemorar a emancipação político-administrativa de Machadinho, da qual ela e seu marido também participaram. “Foi uma festa muito bonita, muito grande na noite em que a gente soube que Machadinho tinha sido emancipado”, relembra.
Assim como nos demais machadinhenses que conheceram essa liderança, Maria enaltece fervorosamente as qualidades do Frei Teófilo e sua participação na luta pela emancipação do município. “Ele trabalhou muito para isso, foi a pessoa que trabalhou de unhas e dentes pela emancipação. Ele foi um herói. Era uma pessoa que enxergava todo mundo, não guardava rancor de ninguém, uma pessoa humilde, uma pessoa doce e muito trabalhadora. Esse homem deixou um legado para Machadinho porque ele não media esforços”, diz.
Certamente a história de Dona Maria não cabe nessa página de jornal, mas é possível ter uma noção clara do quão bonita foi a trajetória dessa batalhadora machadinhense que construiu e conquistou muito. Contudo, sua maior conquista é a família, hoje numerosa e composta por cinco filhos (uma in memorian), oito netos e cinco bisnetos. Em agosto nasce o sexto bisneto para alegrar ainda mais os dias de Dona Maria.

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