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Fiel escudeira de Frei Teófilo, Maria Agliardi deixa seu nome escrito na história de Machadinho

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Fiel escudeira de Frei Teófilo, Maria Agliardi deixa seu nome escrito na história de Machadinho

Sempre ao lado de um dos maiores cidadãos machadinhenses – o Frei Teófilo -, Dona Maria Agliardi teve papel fundamental nas conquistas alcançadas no município. Desde seus 27 anos de idade auxiliou Teófilo nas mais diversas funções que desempenhou à frente da sociedade machadinhense.
Contada pela própria Maria, a história de vida da dupla emociona pela ousadia e perseverança na busca por melhorias para a comunidade. Muitos dos momentos mais importantes para o município tiveram como fundamental a força de vontade e perspicácia do Frei Teófilo, que contava sempre com o apoio de Maria, sua prima que partiu de Vacaria para ver crescer a terra do balneário.
Em determinado momento, de acordo com Maria, Frei Teófilo sentiu a necessidade de ter alguém para auxilia-lo, já que a tarefa a que se propunha era grandiosa. “O Frei saiu daqui com três estudantes para levar até o Seminário em Veranópolis, aí passou lá em casa me pegar para vir ajudar. Quando ele voltou do Seminário, passou lá em casa e me disse: ‘apronte as roupas e vamos’”, relembra.
A comunicação sobre a ideia de convidar Maria para auxiliá-lo em Machadinho foi bem diferente do que se está acostumado nos dias atuais para troca de informações. “Ele tinha me mandado uma cartinha. Eu já sabia que vinha quando ele foi lá na casa do meu pai”, comenta.
Machadinho hoje conquistou o coração de Dona Maria, porém, de acordo com ela própria, a primeira impressão foi desesperadora. “Eu cheguei aqui e era só mato, muito mato. Eu disse: ‘vou voltar para casa’. Aí o padre disse: ‘não, fique aqui que aos poucos você vai se acostumando’”, conta. E assim começou uma história que hoje beira os 60 anos de parceria com a comunidade machadinhense.
O primeiro momento marcante na construção do município e que está gravado nas lembranças de Maria é a implantação do Colégio das Freiras. “Quando ele veio aqui a primeira coisa que fez foi o Colégio de Freiras. Ele foi em Rio do Sul buscar as freiras de jipe. Daí vieram as freiras e começaram a dar aula para a turma”, conta.
Depois a empreitada foi ainda maior, o hospital deixou de ser um sonho para virar realidade através do trabalho e perseverança do Frei Teófilo. “Daí, das freiras ele começou o hospital. Ele mesmo trabalhava de pedreiro e saia pelas ruas pedir dinheiro para pagar os empregados”, comenta. “Assim foi até que ele conseguiu construir um pedaço do hospital, mas depois precisava de roupa, cama, tudo para colocar dentro. Ele saia em volta pedir para cá e para lá: cama, pedir roupas para colocar os pacientes dentro do hospital”, destaca Maria.
Sobre a obra seguinte de Frei Teófilo, Maria não especificou à reportagem do Jornal Folha da Club, porém tratava-se do Salão Paroquial, que iniciou de forma humilde pouco antes de iniciar a grande obra da Igreja Matriz. “Ele tinha muito ‘peito’ para fazer as coisas, fez a igreja sem dinheiro. Foi um milhão de tijolos na igreja, um milhão de tijolos”, enfatiza.
Os tijolos utilizados na construção vinham de uma olaria própria, que produzia um excedente que era comercializado e também auxiliava na angariação de recursos para financiar a ambiciosa empreitada.
Para construir a Igreja Matriz, o tempo precisou ser respeitado. Foram várias etapas para que a obra pudesse ser considerada concluída. Depois de iniciada, antes da conclusão o foco foi para a construção da Canônica do município, depois de concluída voltou as forças para a finalização da Igreja.
Outra grande obra, que não precisou de tijolos para ser erguida, porém deixa um eterno legado à comunidade é a emancipação de Machadinho, cuja participação do Frei é testemunhada e avalizada por todos que conviveram com ele naquela época de grandes desafios. “Depois de construir a Igreja ele emancipou Machadinho”, afirma Maria.
Também se encaixa nas conquistas que deixam enorme legado à comunidade a chegada da luz elétrica no município. “Ele sempre me dizia: ‘Maria, não fui eu que fiz tudo isso, foi Deus que fez, eu não’”,relata.
Se Deus tem um papel fundamental nas realizações de Teófilo, Maria dava o suporte aqui na terra para proporcionar tranquilidade ao Frei no enfrentamento aos desafios. “Eu fiz de tudo: eu era pedreira, cozinheira, lavandeira, eu era de tudo”, afirma. “Era muito trabalho. Quando tinha trabalho na olaria o pedreiro levantava às seis horas, eu arrumava as camas, limpava os quartos, ia no tanque e depois ia ajudar o pedreiro puxar tijolos para construir a igreja”, comenta.
E se Maria era um dos braços de Frei Teófilo, com certeza a sociedade representava outro de seus pilares que permitiam a busca dos audaciosos sonhos do sacerdote. “A sociedade sempre ajudou com tudo o que foi preciso. Ele (Teófilo) não fez nada sozinho, fez tudo com o apoio da sociedade”, comenta.
Dessa relação que Frei Teófilo estabeleceu com a sociedade, também ficaram reflexos na ligação que Maria ainda preserva com seus amigos e com o município de Machadinho. “Tenho muitos amigos, todos são meus amigos. Eu amo o município de Machadinho”, enfatiza.
Ao falar sobre a importância da família, Maria usa uma expressão forte e que dá noção de como faz parte insubstituível em sua vida. “Meus pais são falecidos, mas eu me dou muito bem com meus irmãos. Eu vou visitar eles, eles vêm me visitar. Nós sempre nos demos muito bem. A nossa família é uma santidade, não posso dizer uma vírgula de ninguém”, comenta.
Morando sozinha em sua residência, Dona Maria goza de boa saúde para desfrutar dos amigos que conquistou e do saboroso licor que prepara com carinho e serve aos que a visitam. A boa memória e lucidez também permitem que ela faça uma avaliação do que seu trabalho representa para o município onde mora e aprendeu a amar. “Tudo foi bom na minha vida. Não tenho queixa de ninguém, só que eu digo uma coisa: quando eu morrer vai morrer uma heroína, podem dizer essa palavra. Eu sei o que fiz, o que eu trabalhei e nunca disse não uma vez”, conclui.

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